Há uns tempos atrás criei uma Poll relativa aos motivos que levaram as pessoas a emigrar. E eis os resultados:
06 resp.: Porque o meu parceiro(a) é natural do País para onde emigrei.
09 resp.: Porque estava desiludido(a) com o meu trabalho.
19 resp.: Porque tinha/tenho dificuldades financeiras.
19 resp.: Porque queria conhecer outros costumes/países/pessoas.
22 resp.: Porque não tinha emprego no meu País.
23 resp.: Porque estava desiludido(a) com as condições de trabalho no meu País.
38 resp.: Porque queria uma melhor qualidade de vida.
E como já era de esperar as razões mais votadas foram a falta de emprego, a desilusão em relação às condições de trabalho e a procura de uma melhor qualidade de vida. A meu ver ainda vão ser necessárias mais algumas gerações até que se as pessoas se comecem a mudar de país porque simplesmente lhes deu na telha.
Já lá vão os anos em que a grande/absoluta maioria dos emigrantes eram pessoas com poucos recursos/educação que partiam em busca de uma vida melhor. Muitas vezes emigravam sozinhos deixando a família em Portugal e faziam uma vida um tanto ou quanto frugal. Daí o arquétipo do "típico emigrante":
. aquele que emigra para outro país com o objectivo de ficar por lá só uns X anos, mas que vai ficando e ficando ... e ficando
. aquele que trabalhar, trabalha, trabalha, e ... trabalha
. aquele que poupa tudo o que consegue e mais algum
. aquele que constrói uma bruta vivenda na terrinha à qual vai tirar o pó algumas vezes por ano parecendo um Zé das Medalhas a cavalo na súper máquina de última moda ... vermelha de preferência.
Mas quem são os emigrantes dos dias de hoje e que tipo de vida é que levam? E afinal de contas o que é a tão cobiçada "melhor qualidade de vida"?
Lembro-me de alguns anos atrás ter visitado Lausanne durante um fim-de-semana. No hotel conhecemos duas senhoras portuguesas que lá trabalhavam e que nos vieram cumprimentar quando nos ouviram falar português .. e ficou-me um comentário que passou entre elas quando se afastavam: "Estás a ver? nós viemos com a mala às costas e tivemos que entrar pela porta do cavalo e hoje em dia eles entram pela porta da frente em todo o lado!".
Falando por mim, eu emigrei por puro acaso. Estava eu a contemplar a minha vida como investigadora numa instituição aonde só os patêgos é que não tinham tachos por fora; aonde eram os burros de carga de todos e mais alguém e ainda acreditavam em ganhar a vida honradamente como investigadores e não como re-inventores da roda ...guilty as patêga, yep ... quando decidi mudar de rumo e começar à procura de emprego no sector privado (aonde pelo menos não tinha que sobreviver à custa de eventuais bolsas). E como tudo aparece quando é preciso, apareceu-me à frente por pura coincidência uma proposta de emprego aqui. Não por factor C ou nada que se pareça, mas por uma simples brincadeira que depois foi levada bem a sério. Emigrei em 2001 com 24 anitos e na mala levava todas as minhas posses: a minha roupita, livros, cds, computador, os meus dois canudos e um bacalhau :D. Não tenho uma vida de típico emigrante, não. Não tenho nada em Portugal, não tenho lá casa/carro/etc. Quando lá vou há sempre um canto em casa dos pais/irmãos ou um hótel algures e táxis :) Não passo a vida a pensar/contar que me vou embora de volta a Portugal e não faço uma vida só de casa/trabalho/casa. Todos os meus amigos por cá são suíços. Respeitam-me no trabalho e consideram-me uma excelente profissional. O país no geral tem um grande amor à Natureza e ainda se pode ir dar uma volta a pé à noite e olhar para as estrelas sem ter que se estar constantemente vigilante e à espera de ser roubado ou algo pior. Quanto à bruta vivenda, tenho-a cá (onde vivo na maioria do tempo) e quanto a máquinas de última moda, quem precisa delas quando se tem o melhor sistema ferroviário da Europa :D
Em suma, sinto-me em casa. :)
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terça-feira, 23 de junho de 2009
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9 comentários:
Excelente mensagem!!!
Retrata certamente o que vai na cabeça de alguns milhares de Portugueses espalhados pela Suíça e não só.
Só tenho muita pena que nenhum político (ou aspirante a isso) venha por aqui ler o que de bom existe lá fora.
Sim, porque cá dentro, de bom, só o clima e a comida.
Pergunto muitas vezes aos meus botões o que de mal fizemos, para ter de aturar este bando de incompetentes?
Até um destes dias! Tudo de bom para ti...
João
Há já algum tempo que sigo este blogue - ainda da altura que estive em Zurique.
Só agora, com este post, vi que também estavas no ramo da investigação e concordo com tudo o que escreveste. Estou neste momento a acabar o doutoramento e mortinha por me por a andar deste Portugal para fora! Só estou à espera da oportunidade certa!
Continua, pois aí é que se está bem! País como esse, onde tudo funciona tão bem, deveria ser um modelo para muitas sociedades...
@João
Portugal é um país que tem potencial para ser mais rico do que a Suíça. Mas para isso, cada indivíduo tem que chegar à conclusão de que a mudança de comportamentos/valores/consciência tem de partir de todos os que lá vivem e não só dos políticos ou "vizinhos do lado" ou "só quando dá jeito".
E sim, eu sei que é muito fácil falar quando se está fora e que alguém muito provavelmente vai pensar qq coisa do género "então pq é que não ficou por cá para ajudar a ...erm .. (só me lembro da expressão em inglês -_-) to make a difference?" E a resposta é muito simples. Porque sou um ser humano como qq outro e não resisti à proposta de emprego que me fizeram fora do país :)
@cipeira
A vida dá muitas voltas :) Nunca eu tinha imaginado quando ainda estava a estudar de que ia sair do País, e hoje em dia acho que é uma experiência que toda a gente devia ter; mesmo que seja só por alguns meses. Mas nem tudo são rosas, há quem se integre às mil maravilhas e há quem apanhe alguns "bumps-on-the-road" pela frente. Hoje em dia sinto-me em casa é verdade, mas foram precisos 7 anos para isso.
Boa sorte como teu doutoramento e com os teus planos futuros. E vai fazendo update ao teu blog. Eu gosto de lá ir espreitar tb ;)
No meu caso, foi devido á idade. Com trinta e poucos anos, não consegui arranjar emprego em Portugal. Ah, e por ter habilitações a mais.
Enfim, Parece que vou ter que ficar cá por fora ad eternum.
Cumprimentos
Rui e Susana, dois tugas de Almada e Cascais aq viver em Wageningen, Holanda
Tal como disse o Relojoeiro é de facto um retrato do que se passa neste triste país. Lindo de paisagens e boa comida que não fica nada atrás de outros paises,mas que em termos culturais ainda vai levar algumas gerações.
Nem com as ditas Novas Oportunidades ,que só mostram os imcompetentes e desgovernados governantes que dia após dia , vemos abandonar do nosso lindo País
pessoas muito válidas ,que podiam enriquecer em todos os niveis a nossa sociedade,a nossa cultura,o nosso desenvolvimento.Em suma a nossa melhor massa critica Emigra ,pede nacionalidade noutro país e a Nossa Querida Pátria, que desde crianças fomos ensinados a amar ,respeitar e até lutar por ela fica entregue a bandos...... de incompetentes.
Pobre País que deixa partir os melhores e mais novos dos seus filhos.
Que um dia a justiça de Deus seja feita. Já que a dos homens não existe.
Que sejas feliz onde por mero acaso foste parar.
Mas como dizes nem tudo são rosas....!E´a experiência que fala.
Muitos beijos
@Tia Maria
chega uma altura em que mesmo que se queira, uma pesso já não se habitua a trabalhar em Portugal outra vez. O método de trabalho (sem falar nas pessoas) são completamente diferentes.
É verdade. Neste momento, mesmo que quisesse, não conseguia voltar a trabalhar em Portugal.
Até porque aqui, ganho como aquilo que sou, engenheiro informático, daqueles a sério, que estudou, não como o outro...
E tenho um ambiente de trabalho tão descontraído que ainda ás vezes me belisco. É que eu aqui vou para o trabalho de calções e chinelos porque "epá, rui, está um calor do caraças" (isto em holandês, claro. lol)
O nosso problema em Portugal é e será sempre de mentalidade. Ainda há duas semanas, quando fui a Portugal para a minha esposa se ir tratar da coluna, fui a uma entrevista, por mera curiosidade, só para ver se alguma coisa tinha mudado em 6 anos (há 6 anos que não tinha uma entrevista em Portugal, não fosse eu um gajo expedito e já tinha morrido á fome), numa empresa que se mostrou interessada na minha experiência "lá fora". Pois, a primeira coisa que eles me disseram foi que "Isto não é a Holanda, nós não pagamos esse tipo de ordenados". Ok, então vão bater á porta de outro, que daqui não levam nada.
Enfim, é triste, mas c´est la vie, como diriam os ingleses. lol
Ah, já agora, na minha última entrevista em Portugal há 6 anos, depois de perguntar várias coisas ao entrevistador que achava importante, uma delas qual era a empresa, mania que têm em Portugal de por as pessoas a fazer entrevistas de emprego sem se saber quem é o potencial empregador, e de o personagem a todas responder que não podia disponibilizar essa informação, quando ele me perguntou qual a mais-valia que eu ia trazer á empresa, disse-lhe que não podia disponibilizar essa informação, sai porta fora e deixei-o a falar sozinho.
Realmente, sempre me disseram que eu tinha um mau-feitio do caraças. Eu acho que não, acho que sou é um gajo que se rege na vida pela lógica. 2+2 são 4, não há zonas cinzentas.
Cumprimentos.
Rui e Susana, dois tugas, um deles com mau-feitio, de Almada e Cascais a viver em Wageningen, Holanda
Olá e boa noite,
Foi com muito agrado que li o teu post e desde já os meus parabéns pela coragem que demonstraste em emigrar visto que é sempre difícil deixar a familia e amigos para trás, mas quando é para melhor nunca se deve deixar passar a oportunidade. A minha pergunta, e visto que trabalhas como investigadora, é:
Há alguma possibilidade de emprego no ramo da química?
Sou técinico de laboratório têxtil e sempre sonhei, e agora ainda mais, emigrar, e gostava de saber qual a possibilidade de trabalhar no ramo em que estou especilizado, química têxtil, sei que não é fácil, mas como diz o outro, a esperança é a última a morrer.
Se puderes ajudar....
Até um dia
Marco, realmente não sei pq a química não é a minha área. Dá uma vista de olhos à página que tem os links para os centros de emprego. Uma coisa que sim sei, é que alguns cursos não são reconhecidos cá e as pessoas (mesmo vindas da CEE) muitas vezes têm que repetir os cursos aqui para poderem trabalhar na sua profissão de escolha. É claro que tudo depende do curso e de onde foi feito, mas é sempre uma pergunta que não custa fazer em eventuais entrevistas. Outra coisa que se deve perguntar é se é essencial saber a lingua local quando começar a trabalhar. Boa sorte :)
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